UMA VIDA POR 150 REAIS (80 dólares)

HISTÓRIA MOÇAMBICANA

UMA VIDA POR 150 REAIS
Maria espiava pela janela da pequena casa feita de barro. Papai conversava fora com um homem, em tom muito baixo. Era um senhor que, para Maria, parecia ser velho. O que tanto conversavam? – Pensou ela. O homem chegou muito cedo e papai mandou que Maria ficasse com suas irmãs dentro de casa. Pelo jeito era um assunto sério que elas não podiam ouvir. Após longa conversa, papai voltou. Ele estava sério e não falou nada. Arrumou-se para o serviço. Maria ficou ali pensativa: Algo não ia bem! Logo, porém, ela retomou seus afazeres de casa: buscar água no poço da vila, tirar a fralda suja da irmã mais nova, preparar a comida. Assim procedia todos os dias.  
O dia seguinte era domingo, o dia de ir à Escola Dominical. Era o acontecimento mais alegre da semana para Maria e suas irmãs. Ela levantou muito cedo para dar conta de todo o serviço. Depois colocou seu vestido mais bonito que possuía. Apesar de velho, ficava lindo nela. Depois ajeitou os cabelos e acordou a irmã, Tereza. Não precisava chamar muito.Tereza, com seus 5 anos de idade e sempre sorrindo,sabia cuidar de si mesma muito bem. Vestiu seu vestido e um casaco por cima, pois estava um pouco frio. Na cabeça uma toca, para esconder a queda de cabelos. Tereza estava doente. O vírus HIV se instalou em seu corpinho e precisava tomar remédios muito fortes para combatê-los. Por isso perdia o cabelo.
Maria tomou a irmã mais nova nos braços e a kekou nas costas (amarrou com um pano). Papai estava sentado fora da casa lustrado os seus sapatos. O culto iniciava depois da Escola Dominical, por isso ele não precisava ter pressa.
Maria se sentia feliz em cuidar de suas irmãs e da casa. Apesar de suas limitações, ela se sentia bastante útil após a morte da mamãe. Ela frequentou a escola somente por algum tempo, mas desistiu, pois não conseguiu aprender a ler e escrever. Os professores diziam que ela era “especial”.

Na Escola Dominical os tios brincavam com as crianças. Maria era uma das maiores, com seus 16 anos, mas ela brincava junto. Não se importava com o tamanho, pois seus pensamentos e emoções eram como de uma criança.  

Na volta para casa papai chamou Maria e disse – Deixe suas irmãs dentro de casa e vem comigo!
Maria fez o que papai falou, mas assustou-se ao ver novamente aquele homem em pé um pouco afastado da casa.
- Você irá com ele, Maria! Ele irá cuidar bem de você – falou papai e voltou-se e andou em direção à casa. Maria ficou ali em pé diante do homem, até que entendeu que iria embora com ele. O homem a pegou no braço e falou rudemente:
 - Venha comigo! Agora você é minha! Eu a comprei de seu pai!!!
Maria não podia escolher. Sua cabeça estava muito confusa. Ela não sabia muito bem o que significava isso, mas sabia que era algo muito ruim, pois ouviu falar de outras meninas de sua idade que nunca mais voltaram para casa.

Papai, que se chama Antonio, cuidou da casa da maneira como podia. Mas quando Antonio ia trabalhar, a pequena Tereza teve que assumir o papel de Maria e de mamãe que agora já não estavam mais.
Antonio trabalhava todos os dias na casa do missionário. Ali ele ouvia a Palavra de Deus frequentemente, também no culto, mas não deixou que Deus modificasse seus pensamentos quanto aos costumes do seu povo. O dinheiro pago pela filha era muito tentador e ele não conseguiu resistir a esta tentação. Com o dinheiro na mão ele pode finalmente comprar aquele celular que ele tanto queria.
O missionário, porém, ouviu o que aconteceu. Ele o chamou e os dois conversaram. – O que eu fiz, todo mundo faz aqui! – Antonio falou - É a nossa cultura, nosso costume.
O missionário tentou convencer Antonio de que, mesmo que essa prática seja comum na cultura, é contra a vontade de Deus.
- Você já imaginou como Maria está se sentindo nesse momento? Ela nem consegue pensar como uma adulta! – falou o missionário.
 Antonio, porém, apreciava seu celular. Ele achou que fez um bom negócio.

No próximo domingo, todos se encontraram novamente na Igreja. Primeiro, a Escola Dominical. Tereza foi com sua irmãzinha pendurada nas costas. Mal conseguia se manter em pé de tão fraquinha, coitada.
 
Um visitante estrangeiro estava ali com a tia Cecília, a missionária. Tereza abriu aquele lindo sorriso para ele. As crianças se aproximaram primeiramente um pouco tímidas, mas depois já o estavam rodeando como as abelhas ao redor do mel. Foi uma manhã divertida, com histórias e brincadeiras. O jovem estrangeiro, que se chamava José, brincava, conversava e sempre tirava muitas fotos.
O culto iniciou e o pastor da pequena igreja, de chão batido e telhado de palha, iniciou seu sermão. Enquanto pregava a Palavra de Deus ele se emocionou ao lembrar da triste situação de Maria. Lágrimas rolavam pela sua face.

Após o culto, o senhor Antonio foi conversar com os missionários e o pastor. Ele também estava triste. Parece que, enfim, ele deixou que Deus falasse a seu coração.
- Estou arrependido de ter vendido minha filha. O que é que eu faço?
Todos sabiam que uma vez que o pai vende sua filha, não é possível comprá-la de volta. A não ser que o marido não a queira mais. Este, porém, não era o caso. Então o missionário perguntou:
- O senhor tem dinheiro para comprá-la de volta?
- Não, senhor, já gastei com o celular!
- Quanto o senhor pagou?
- Paguei 2000 meticais (moeda moçambicana – valor aproximado de 80 dólares).

Ninguém conseguia pensar em uma solução para a situação, até que o jovem José sugeriu:
- Eu pago para comprar a menina de volta.

Esta não é uma prática comum. A idéia de José é boa, mas não se sabe se funciona. Nesse momento, porém, seria o melhor a fazer. Então, o jovem tirou seu dinheiro para comprar a menina de volta. Ainda havia um problema: talvez o homem que a comprou não a queira vender.
A Igreja ajudou a fazer o “negócio”. O dinheiro foi emprestado para o pai, que compraria de volta sua própria filha.

Antonio, então, foi buscar Maria na casa do homem. Ela estava com os olhos inchados de tanto chorar. Finalmente foi liberta desse pesadelo e voltou ao seu lar.

Sobre a história:
Esta história aconteceu num lugar na África, no país Moçambique. A menina voltou grávida e deu à luz um lindo menino. Seu pai construiu uma “Palhota” para ela e o bebê. Seus pais a ajudam a criar o menino.
Muitas meninas são vendidas por um preço muito baixo. Talvez você gaste R$150,00 muito rapidamente em um par de tênis, uma bola ou numa roupa legal. Pense bem: quanto custaria sua vida? Jesus pagou um alto preço por você: ele deu sua vida por você. Ele fez isso porque o ama.
Salmo 139

História baseada no relato de Davi Schütze, em sua viagem à África em 2012 pela MIAF (Missão para o Interior da África).  



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